quinta-feira, 31 de maio de 2007

TEXTO: Jornalismo diário
AUTOR: Frederico de Queiroz

Capas de jornais de todo o mundo

Ao passar por uma banca de jornal é costume observar uma multidão espremida à sua face lateral tentando ler as manchetes que aparecem em suas capas. Estas, poucas que são, cabem nos 4 metros quadrados da área destinada à exposição dos noticiários.
Porém, com o avanço da tecnologia as “bancas” se tornaram do tamanho da terra e os 4 metros são hoje infinitesimais. Estas mudanças se devem ao poderoso instrumento da Internet no qual os leitores podem visualizar no site: (http://www.newseum.org/todaysfrontpages/) as principais capas de jornais do mundo. O leitor eletrônico pode escolher um “pontinho” em qualquer lugar no planeta e ver a capa principal jornal daquela área.
Nos tempos atuais as facilidades encontradas são realmente significativas. Não é mais necessário se espremer para ler a principal manchete postada na banca de revista. Todavia resta a discussão “será que a leitura através do computador apresenta o mesmo gostinho de leitura na banca e, às vezes, inicia um bate papo com o desconhecido do lado?” Esta questão só o tempo poderá responder.
O futuro do jornal impresso

Antonio Caetano (*)
Assinante de dois jornais, todo dia me faço essa mesma pergunta diante de uma pilha de papel tão precocemente envelhecida. O futuro imediato é o lixo, claro. Pois o que fazer daquelas centenas de páginas, das quais, quem sabe, uns 5% foram de fato consumidos? No meu caso, talvez menos ainda: por conta de meu trabalho como editor de conteúdo de um site, cada vez faço mais uso das versões digitais dos jornais daqueles jornais que são de fato publicações , isto é, coisa pública , e não meros instrumentos de marketing de provedores de acesso (sim, estou falando da Folha de S.Paulo ...).
O jornal impresso como o conhecemos hoje é ainda um produto típico do século 19, do tempo em que a fumaça das chaminés era um admirável sinal de progresso. Ou seja: o jornal impresso é ainda um produto marcado pelo signo do desperdício.
Recolham esse lixo
Mas é justamente esse inferno cotidiano, futuro previsível de todo assinante, que abre a perspectiva de uma especulação sobre o futuro do jornal impresso. Porque é óbvio que os departamentos de marketing carecem de humor e imaginação, portanto para se oferecerem não só para entregar como também recolher os jornais que distribuem.
Nem será necessário. A Internet e a digitalização da informação resolverão o problema. Simples: como a tendência do acesso é tornar-se gratuito ou quase tão barato quanto ligar a TV ou o rádio, o jornal será distribuído pela Rede. Até aí nada demais, todos nós que usamos a Internet de modo intensivo já intuímos isso ou simplesmente o ouvimos dos inúmeros futurólogos que andam assinando matérias por aí.
Um quadro próximo
Portanto, sejamos mais criativos. Vamos tentar juntos imaginar um quadro que nos pareça, ao mesmo tempo, claro e verossímil, isto é, próximo. Primeiro, vamos enumerar os dados para a construção do nosso cenário. Vamos supor que:
1) Muito rapidamente as telas de cristal líquido, aquelas telas fininhas dos laptops e dos caixas automáticos, serão baratas e populares, produzidas nos mais diferentes formatos e tamanhos.
2) O acesso à Rede, como já foi dito, será tão barato quanto ligar uma TV.
3) E o sempre tão esquecido, nesses exercícios de futurologia marota, segmento das impressoras ganhará rumos mais surpreendentes.
Pronto: estes são os elementos.
Agora imagine que você é assinante de um jornal. Você acaba de acordar e, em vez de ir até a porta pegar o lixo do dia seguinte, você liga uma tela de cristal líquido do tamanho de um jornal tablóide. Um pequeno programa embutido no aparelho já se encarregou de fazer o download da edição do dia. Você pega sua tela ela funciona sem fio também! , leva-a para a mesa junto com o café da manhã e começa a "folhear" seu jornal clicando, digamos, um controle remoto. E vai lendo e marcando as matérias que lhe interessam aqueles tais 5% ou 10% diários que você consome.
Mas o que você gosta mesmo é de ler no papel.
Claro, o contato com o papel é uma sensação insubstituível. O papel, o livro, a bicicleta, a orquestra sinfônica, a bola são objetos perfeitos (mas isso é outra história...). Pois bem, à sua tela de cristal líquido está acoplada uma impressora. Você clica um botão e pronto: a edição do jornal que você selecionou é impressa em sua casa!
Eis aí, em síntese, um bom cenário futuro para o jornal: ele não deixa de ser impresso, mas não o será mais em imensos parques gráficos caríssimos, que por sua vez exigem complicadas e caríssimas operações de distribuição. Ele será impresso em sua casa.
O custo da aparelhagem, claro, estará diluído no preço da assinatura que, óbvio, será infinitamente mais barato do que é hoje pois, além da aparelhagem, o que estará incluído no preço será o salário dos jornalistas e técnicos envolvidos na produção da notícia.
Adeus, empresários
Agora, imagine o que isso significará em termos de independência política, econômica e editorial... Será o fim dos "grandes empresários" da notícia. E a variedade de publicações será imensa!
Enfim, eis aí um cenário que é a fantasia mais gloriosa tanto de assinantes quanto de jornalistas. E o pesadelo dos magnatas do pedaço. Um pesadelo muito próximo mesmo. Mas que dependerá muito da pressão que faremos nós cidadãos, assinantes e jornalistas. Pois a nova tecnologia é essencialmente aberta e flexível. O limite é nossa imaginação, e sobretudo, nosso poder de influência.
Obs. : Não quis introduzir aqui, neste cenário construído rapidamente, tecnologias já em estado avançado de desenvolvimento, como o reconhecimento de voz a Internet ainda é meio apavorantemente silencioso ou as possibilidades que os mecanismos de busca já oferecem para o aprofundamento de qualquer notícia. Em outra oportunidade, gostaria de falar sobre o conceito de tempo na Internet e sua relação com o radical exercício da vontade individual que a Rede oferece.
(*) Editor de conteúdo do Café Impresso <>