quinta-feira, 21 de junho de 2007

ENTREVISTA REALIZADA PELO JORNAL “O POVO” COM O ARGENTO RODRIGO FINO

Postado por Elaine Oliveira

O argentino Rodrigo Fino, formado em Comunicação Social e Publicidade, é o atual presidente para a América Latina da Garcia Media, onde começou há 14 anos como assistente do fundador, Mario Garcia. Para os que acham que o fim do jornal está próximo, ele aponta que a tendência agora é desenvolver a interatividade, o pensamento multimídia. Para os jornalistas, uma dica: valorizar o conteúdo que pode ser transportado para a Internet e para outros veículos, especialmente eletrônicos. E, principalmente, aproveitar as outras plataformas para valorizar aquilo que é publicado no jornal. "Chamar na TV e no rádio a grande matéria do dia seguinte, convidar o leitor a comentá-la na Internet. Esse é grande o segredo a partir de agora". Quem está preparado para o desafio? OP - Os jornais de 10 anos atrás eram completamente diferentes dos de hoje e daqui a quatro, cinco anos mudarão ainda mais. Quais foram os momentos que marcaram a transformação visual nos jornais impressos? Rodrigo - A revolução dos jornais começa com o aparecimento do Macintosh, em 1984, e a possibilidade de auto-edição, você poder escrever e reescrever o texto em seguida. Aí mudou totalmente a forma de se fazer jornal. Foi uma grande mudança no mundo das empresas de comunicação. Depois, o segundo momento importante aconteceu entre 1991 e 1992, com a Guerra do Golfo, quando acontece o desenvolvimento da infografia. Isso deu muitas opções aos jornais. Você (o impresso) não tinha imagens da guerra, então tinha que mostrar com desenhos como eram os combates, o que acontecia. Na Argentina, também teve papel importante a Guerra das Malvinas, em 1982, porque a infografia teve que ser explorada a partir deste momento. OP - Era uma forma de o jornal se diferenciar da cobertura da TV e do rádio. Rodrigo - Exato. Justamente na década de 1990, vira moda a preocupação com a questão visual, muitos jornais resolvem fazer seu redesenho. A TV e o rádio tinham a seu favor a instantaneidade. Cabia ao jornal aprofundar o fato. E nada melhor do que ilustrar como ele aconteceu. Você tinha que ambientar o eleitor. O terceiro momento da revolução do impresso vem com a Internet, a partir da metade da década de 1990, com a aparição da multimídia. As notícias passam a chegar a nós pelo computador, por e-mail, por celular. Foi um choque cultural nos jornais e tudo isso junto fez com que as empresas se obrigassem a mudar. Mas a velocidade de edição dos jornais só foi possível por causa da chegada do computador. OP - A infografia surge como uma possibilidade de oferecer uma informação que somente o jornal impresso podia ter. Com as possibilidades que temos hoje com a Internet, ela é superior ao que era feito antes ou ainda é preciso avançar? Rodrigo - Quando a infografia atinge seu melhor momento de qualidade, começa uma mania louca de se desenhar qualquer coisa: como é um gravador por dentro, como cai a chuva... Você olhava para os jornais e tudo era infografia. Não havia pertinência. Uma foto era trocada por infografia. Agora, a infografia virou um gêneno jornalístico, usado na medida certa. Além disso, na Internet, ela ganhou possibilidades incríveis com a animação. OP - Até pouco tempo atrás a mídia de um modo geral possuía o monopólio da informação. Hoje, os receptores já não são mais passivos, querem participar, por exemplo, comentando as matérias, sugerindo pautas. A mídia esqueceu que o receptor é o grande interessado no produto? Rodrigo - A mídia sempre foi o fiscal do poder, tendo a última palavra. Mas hoje, no caso do leitor de jornal, ele recebe muito mais informação do que antes, pela Internet, TV, celular e rádio. Agora, ele passou a se tornar fiscal da mídia, pois tem capacidade de distinguir qualidade, enfoques diferentes. O controle da informação está no cidadão. Isso mudou a relação da mídia com o leitor. Ao invés de "leitor", fica mais correto chamá-lo de "audiência". Pois o cidadão tem o poder de escolher, não só os veículos, mas agora também a plataforma: hoje é o jornal, amanhã ele muda para a Internet e, depois, para a TV. OP - Um jornal pode sobreviver sem interagir com outras mídias? Rodrigo - Dentro de cinco anos acho que isso vai se tornar muito difícil. O futuro dos jornais está na interatividade, na troca de informação com outras plataformas. Isso é uma grande possibilidade para os jornais, não uma ameaça. Gosto muito do exemplo do fenômeno Harry Potter. Crianças de nove anos estão lendo livros de 700 páginas em poucos dias. Mas o livro recebeu colaboração do cinema, que ajudou a popularizá-lo, da mesma forma que incentivou várias crianças a assistir ao filme. Foi um fenômeno muito interessante para quem diz que as pessoas têm preguiça de ler textos pesados. Neste caso, a literatura está para o cinema assim como a Internet está para a mídia impressa. Um pode ser aliado do outro. OP - O futuro do jornal será então ter notícias rápidas, copiando a Internet, ou se voltar a grandes reportagens? Rodrigo - A tendência mundial é ter, após um fato como o acidente do avião da Gol, notícias curtas na Internet e, no dia seguinte, aprofundar o assunto no jornal impresso. Mostrando quantas pessoas morreram, como foi o acidente, o que aconteceu com o outro avião, qual foi o problema do radar. Uma boa história no jornal, que vá além daquilo que já foi visto nas mídias eletrônicas, sempre vai conquistar o leitor. Acho que os jornais não devem se voltar apenas à informação quente, mas ter também coberturas profundas, que a gente costuma encontrar em revistas, por exemplo. OP - Os jornais como um todo têm um problema de logística muito grande para colocar o produto na rua. Esse produto, todavia, após 24 horas, não tem mais validade. Com o avanço da mídia eletrônica de forma a possibilitar que o leitor receba notícias por diversos meios, o jornal impresso estaria próximo do seu fim? Rodrigo - Acho que, em 15, 20 anos, vai se tornar comum encontrar jornais em papel eletrônico ou uma espécie de tela de televisão, em que as notícias virão por meio de ondas eletromagnéticas. Possivelmente o jornal não será mais feito em papel, mas em suporte de plástico, eletrônico. Mas tudo vai depender de que se consiga um aparelho de leitura acessível a todos e de fácil transporte. Essa deverá ser a próxima revolução dos jornais. E não só resolverá um problema funcional, de logística da impressão e distribuição, mas principalmente ambiental, porque deixará de descartar papel após 24 horas. Mas logo os jornais irão perceber - pelo menos quem ainda não percebeu - que a informação é mais importante do que a plataforma. O jornal impresso vai desaparecer, mas o jornal como instituição, não. Ele trabalhará com outras mídias.

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